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Falta de chuva impacta nível dos reservatórios em MG; Copasa e Cemig garantem abastecimento

Apesar da longa estiagem, Copasa e Cemig afirmam que abastecimento está garantido; especialistas analisam que desabastecimento de água a curto prazo está descartado

05/09/2024 às 09h42
Por: Redacao
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Copasa informa que reservatórios do Sistema Paraopeba (Rio Manso, Céu Azul e Vargem das Flores) estão com níveis “dentro do esperado” | Crédito: Reprodução Site Copasa
Copasa informa que reservatórios do Sistema Paraopeba (Rio Manso, Céu Azul e Vargem das Flores) estão com níveis “dentro do esperado” | Crédito: Reprodução Site Copasa

O longo período de estiagem está impactando o nível dos reservatórios da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) e da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), no entanto, as empresas afirmam que o abastecimento está garantido.

O Sistema Paraopeba, um dos responsáveis pelo abastecimento de água de parte da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), por exemplo, teve queda de 23,7% no volume dos reservatórios no último dia 3, na comparação com igual dia em 2024. E em relação ao mesmo dia de 2022, o recuo é maior (-27,6%). O que mostra, pelo menos, dois anos consecutivos de queda.

Apesar do recuo, a Copasa informa que os reservatórios do Sistema Paraopeba (Rio Manso, Serra Azul e Vargem das Flores) estão com níveis dentro do esperado para essa época do ano. “A Copasa está monitorando o nível do Sistema Paraopeba e do Rio das Velhas e, até o momento, não há variações significativas que possam causar impacto para a distribuição de água da região metropolitana”, diz a companhia por meio de nota.

O membro da comissão de recursos hídricos e saneamento da Sociedade Mineira de Engenheiros (SME), o engenheiro civil e sanitarista Frederico Ferreira de Vasconcelos, afirma que a análise do nível dos reservatórios de água bruta em Belo Horizonte revela uma situação preocupante em 2024, já que os dados indicam que os reservatórios do Sistema Paraopeba estão com níveis 23% menores do que no ano anterior, situando-se em 64,5% de sua capacidade total.

“A situação mais crítica é observada no reservatório de Vargem das Flores, que está abaixo da metade de sua capacidade. A pluviometria na região tem sido significativamente baixa, com um registro de 0,0 mm em setembro de 2024, contrastando com a média histórica para o mês. Além disso, Belo Horizonte enfrentou um período de mais de 130 dias sem chuvas, contribuindo para a redução dos níveis dos reservatórios”, observa.

Ele explica que a temperatura média neste ano também tem desempenhado um papel nessa dinâmica, já que com temperaturas elevadas, a evaporação aumenta, o que pode contribuir para a diminuição dos volumes de água nos reservatórios. “A combinação de baixa pluviometria, temperaturas elevadas e os efeitos residuais de um forte El Niño criaram um cenário desafiador para a gestão dos recursos hídricos em Belo Horizonte”, diz.

Vasconcelos observa que a Copasa tem monitorado os níveis dos reservatórios e adotado medidas para garantir o abastecimento de água. No entanto, o especialista, que é head de saneamento e partner na Houer Concessões, alerta que a situação demanda uma atenção contínua e esforços de conservação de água por parte da população, além de políticas públicas eficazes para o manejo sustentável da água em face das mudanças climáticas e da variabilidade hidrológica.

Para o professor titular do Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Luiz Rafael Palmier, é baixo o risco de desabastecimento de água a curto prazo. “Os níveis atuais dos reservatórios do Sistema Paraopeba estão em 63,5%. É um valor relativamente confortável para o início do último mês da estação seca. No alarmante ano de 2015, por exemplo, esses níveis alcançaram o valor mínimo de 20% em novembro”, analisa.

Ele afirma que a situação pode passar a ser preocupante, por exemplo, se ocorrer uma sequência de estações chuvosas com volumes de chuva abaixo da média histórica, com consequente esgotamento dos reservatórios. “A situação é relativamente confortável, o que não significa que a Copasa deva abdicar de suas campanhas de incentivo para diminuir o uso inadequado e o desperdício de água”, aconselha.

A especialista em direito de energia, Raquel Arantes, também destaca que a medida de conscientização do uso da energia e da água deve ser implementada com uma conscientização da população sobre o uso desses recursos, porém não com uma medida de risco de um desabastecimento neste momento.

Ela não aposta em desabastecimento a curto prazo. “Porém, se não houver um planejamento para acompanhar essas mudanças climáticas, a médio prazo é possível que isso aconteça”, diz.

Eletricidade

No caso da energia, o consumidor está sentindo no bolso os efeitos do baixo nível dos reservatórios, já que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) acionou a bandeira tarifária vermelha, patamar dois, em função de previsões de chuvas bem abaixo da média histórica, explica o gerente de tarifas da Cemig, Giordano Bruno de Pinho Matos.

A última vez que o governo acionou a bandeira vermelha foi em agosto de 2021. A divulgação da bandeira pela agência ocorreu no último dia 30 de agosto e vale para o mês de setembro. Dessa forma, as faturas de todos os clientes das distribuidoras brasileiras deste mês, com vencimento em outubro, contarão com acréscimo de R$ 7,877 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos.

“As bandeiras tarifárias foram criadas em 2015 e são acionadas mensalmente pela Aneel. Elas têm como objetivo sinalizar para o consumidor os custos reais e imediatos da geração de energia. Então, em períodos de escassez de energia, onde as termelétricas são acionadas, o consumidor percebe esse aumento de custo imediatamente”, observa Matos.

Os meses de junho, julho e agosto deste ano registraram o menor volume de chuvas nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do País nos últimos 94 anos. Com a piora nos reservatórios devido à seca, a expectativa é um acionamento de 70% a 80% das termelétricas, cujo custo é mais alto, para garantir a oferta de energia.

Razoável

Apesar da falta de chuvas, a Cemig avalia que o armazenamento dos principais reservatórios como razoável na última terça-feira (3), com os seguintes armazenamentos: Theodomiro Carneiro Santiago – Emborcação (56,19% do volume útil), Nova Ponte (58,01%), Três Marias (52,16%) e Irapé (55,62%).

A estatal destaca que o período chuvoso na região Sudeste vai de outubro a março e que, portanto, por ser uma época de seca, a tendência é de diminuição dos volumes até o final da estação seca. A previsão da Cemig é de que o período chuvoso comece em meados do próximo mês.

A companhia ressalta que a energia consumida em Minas não é gerada apenas nesses reservatórios, mas nas usinas de todo o Brasil, através do Sistema Interligado Nacional, que atua no intercâmbio energético entre os diversos estados do País, com exceção de Roraima.

Eletrobras em Minas

Outra empresa do setor de energia que atua no Estado, a Eletrobras informa que as usinas hidrelétricas em Minas Gerais operam normalmente, seguindo o planejamento de curto prazo e a programação diária elaborada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

Por meio de nota, a empresa diz que “cumpre estritamente as determinações dos órgãos reguladores na operação dos empreendimentos hidrelétricos sob sua concessão”:

Usina de Furnas (MG) – 760,91 metros, o que representa volume útil de 49,04%; 

Usina Mascarenhas de Moraes (MG) – 663,90 metros, o que representa volume útil de 78,98%;

 Usina de Luiz Carlos Barreto de Carvalho (MG/SP) – 619,29 metros, o que representa volume útil de 19,42%;

 Usina de Porto Colômbia (MG/SP) – 466,57 metros, o que representa volume útil de 62,15%.

 Usina de Marimbondo (SP/MG) – 438,76 metros, o que representa volume útil de 47,59%.

 Usina de Itumbiara (MG/GO) – 511,57 metros, o que representa volume útil de 54,93%.

 Complexo Anta/Simplício (MG/RJ) – Usina de Simplício: 250,26 metros, o que representa volume útil de 76,11%. Usina de Anta: 251,21 metros, o que representa volume útil de 71%.

Abastecimento de energia garantido, só que mais caro

A situação dos reservatórios mineiros é importante não só para o abastecimento de energia do Estado, bem como para o País. “Minas Gerais tem uma importância para o setor elétrico brasileiro porque é no Estado que estão os principais reservatórios do Brasil”, observa o professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), Nivalde de Castro.

Ele afirma que não há risco de desabastecimento. “O Operador Nacional de Sistema acompanha isso diariamente. E a maneira de evitar esse risco é usar as termelétricas no lugar das hidrelétricas, como está sendo feito agora”, observa.

Apesar do longo período de estiagem, especialistas afirmam que não há risco de desabastecimento, graças ao uso das termelétricas, bem como ao aumento da participação de outras matrizes na geração de energia nos últimos anos, como a solar e a eólica.

No entanto, a tendência, caso as chuvas não aconteçam a partir do período chuvoso, que começa por volta de outubro/novembro, é que o preço da energia fique mais caro, o que acaba tendo impacto, além do preço pago pelos consumidores, na inflação, já que a energia faz parte dos custos de produção.

A associação que representa os grandes consumidores de energia, Abrace Energia, divulgou neste mês estudo que mostra que, entre 2000 e 2022, o custo unitário da energia elétrica para a indústria brasileira aumentou 1.154%, em comparação, os preços industriais aumentaram 585% e o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou uma variação de 291%. Na cesta básica, o peso da energia é de estimativamente de 23,1% do preço final das mercadorias que a compõem, conforme levantamento técnico recente da Ex Ante Consultoria Econômica.

O presidente da Frente Nacional dos Consumidores de Energia, Luiz Eduardo Barata, diz que o impacto da falta de chuvas, no momento, está relacionado ao preço da energia. “Se a condição de seca perdurar ainda teremos energia. Agora, muitos terão dificuldade de pagar por essa energia”, analisa.

Ele observa que o reflexo no custo vai depender da continuidade do período de seca além do normal. “Agora, justamente pelas mudanças climáticas, as chuvas também podem nos surpreender”, alerta.

Diante do cenário atual de chuvas abaixo do esperado, Barata, que já foi diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), defende que campanhas alertem a população para a situação e para o uso mais inteligente da energia. “A situação precisa ser bem administrada”, defende.

 

 

Com Diário do Comércio

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