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‘Perdi 10 quilos, sentia dores fortes e ouvi que era só ansiedade. Dois anos depois, veio o diagnóstico de câncer com metástase’

A estudante Bruna Gettert perdeu 10 quilos em dois meses, sentia dores abdominais intensas e tinha dificuldade para engolir. Ainda assim, foi invalidada pelos médicos, e chegou a duvidar de si mesma. Quando finalmente recebeu diagnóstico de câncer, tinha uma massa de 10 centímetros no abdômen e metástase no fígado

15/06/2025 às 12h44
Por: Redacao
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Bruna Gettert chegou a ser medicada com antidepressivos para tratar sintomas que já eram do câncer — Foto: Arquivo pessoal
Bruna Gettert chegou a ser medicada com antidepressivos para tratar sintomas que já eram do câncer — Foto: Arquivo pessoal

Os sintomas começaram quando a estudante de administração Bruna Gettert, de Caxias do Sul (RS), tinha 20 anos, no fim de 2020. Além de azia, enjoo, má digestão, diarreia e dor abdominal forte, ela perdeu 10 quilos em dois meses — passou de 45 quilos para 35. Como exames de imagem e de sangue não apontaram alterações significativas, ela ouviu que, por ser jovem e estar vivendo em meio à pandemia, devia estar ansiosa.

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Gettert chegou a ser medicada com antidepressivos e, mesmo piorando progressivamente, suas queixas não eram validadas pelos médicos. Demorou dois anos e dois meses para ela receber o diagnóstico de câncer, em 2023, a essa altura já com metástase.

Ao longo desse período, a estudante passou por ao menos seis profissionais, entre clínicos e gastroenterologistas. Foi tratada para H. pylori, tomou protetores gástricos, foi submetida a duas endoscopias, fez ultrassonografias no abdômen e teve até a vesícula retirada. Nenhuma das intervenções diminuiu os sintomas, e nem mesmo o cirurgião que operou a vesícula notou qualquer anomalia.

“Os médicos diziam que nenhum achado justificava sintomas tão intensos. Diziam que eu era muito nova, que devia de estar ansiosa por causa da pandemia. Cheguei a acreditar que tudo era coisa da minha cabeça. Eu estava muito debilitada, mas comecei a pensar que estava inventando”, relembra.

Encaminhada ao psiquiatra, Gettert foi tratada com antidepressivos, e até notou alguma melhora, como a volta do apetite. No entanto, seu quadro se agravou no início de 2023, quando ela passou a ter dificuldade para engolir não somente sólidos, mas também líquidos. Após um desmaio, ela foi levada para o hospital.

Finalmente, o diagnóstico de câncer

Na consulta realizada na emergência, a estudante conta que, pela primeira vez, se sentiu ouvida por um profissional de saúde.

O médico pediu um exame de sangue, que mostrou uma anemia grave, e decidiu internar a paciente. Uma nova endoscopia revelou um pequeno nódulo na cárdia, região entre o estômago e o esôfago, justificando a dificuldade de deglutição. No mesmo dia, uma tomografia apontou uma massa de 10 centímetros entre o pâncreas, o retroperitônio e a curvatura gástrica, além de metástase no fígado.

Após as biópsias, o diagnóstico inicial foi de tumor estromal gastrointestinal, conhecido pela sigla em inglês Gist. Gettert iniciou o tratamento com imatinibe, mas a medicação não surtiu efeito e provocou efeitos colaterais graves, como sangramentos e vômitos com sangue.

Na segunda tentativa, com sunitinibe, a massa abdominal diminuiu para cerca de 6 centímetros, mas a toxicidade se intensificou. “Tive hepatite medicamentosa, meu rosto inchava, sangrava pela boca e nariz, e eu vivia internada”, lamenta.

O diagnóstico do câncer correto

Só em março de 2024, após consulta com um especialista em Porto Alegre e nova análise da biópsia feita no ano anterior, foi descoberto que o diagnóstico estava... errado. A estudante não tinha tumor estromal gastrointestinal, mas sim o chamado tumor neuroendócrino bem diferenciado de grau 2. O diagnóstico correto já havia sido identificado em uma das biópsias anteriores, mas foi ignorado pelos médicos, por um motivo que Gettert desconhece.

O novo diagnóstico mudou a estratégia terapêutica. A estudante está no terceiro medicamento, que estabilizou o quadro e amenizou sintomas, mas não curou a doença. "Sou considerada uma paciente paliativa", afirma.

Apesar das limitações físicas e dos efeitos colaterais incapacitantes dos tratamentos, ela continua fazendo faculdade de administração de empresas à distância e mantém uma rotina de criação de conteúdo sobre câncer nas redes sociais. “Dizem que levo tudo com leveza, mas eu só me permito sentir. O que me dói é que eu minhas queixas foram invalidadas por eu ser muito jovem”, desabafa.

O que é o tumor neuroendócrino?

De acordo com a oncologista Rachel Riechelmann, líder do centro de referência em tumores neuroendócrinos do A.C.Camargo Cancer Center, o termo abrange diferentes tipos de câncer, conforme o órgão de origem. “Há tumores neuroendócrinos no intestino, no estômago, no pâncreas, na tireoide e até na pele. Alguns produzem hormônios, o que pode causar sintomas característicos. Outros não”, diz.

Apesar de não serem comuns como câncer de mama ou próstata, alguns tipos de tumor neuroendócrino não chegam a ser considerados raros. “O de pâncreas, por exemplo, representa apenas 3 a 4% dos cânceres no órgão”, afirma.

O tratamento, no entanto, é diferente para um tumor de pâncreas ou no pâncreas. Por isso, é fundamental que o laudo do exame esteja correto. “O diagnóstico às vezes não é tão fácil. Se o patologista, que é o médico que faz a análise da biópsia, não tiver um bom treinamento e não considerar essa possibilidade [de outro câncer], pode haver confusão", destaca Riechelmann.

O oncologista Rodolfo Leal explica que, por serem muito heterogêneos, os tumores neuroendócrinos podem crescer de forma lenta e causar sintomas apenas quando já estão grandes. “Às vezes são descobertos por acaso, durante exames para outras condições. Quando dão sintomas, a doença já pode estar em estágio avançado”, aponta.

Tipos de tumor neuroendócrino

Os tumores neuroendócrinos são classificados em graus de 1 a 3, conforme a agressividade, sendo o grau 3 o mais agressivo. Além disso, podem ser bem ou pouco diferenciados, de acordo com o quanto suas células ainda se assemelham às normais de origem.

Os bem diferenciados, como o da estudante, preservam características da célula original e, por isso, tendem a crescer de forma mais lenta. Já os pouco diferenciados são mais distantes da célula normal e costumam evoluir de maneira mais agressiva. Essa diferenciação ajuda os médicos a compreenderem o comportamento da doença e a definirem a melhor abordagem terapêutica.

A principal diferença, segundo Leal, está na abordagem: “Os bem diferenciados nem sempre respondem bem à quimioterapia tradicional. Usamos terapias-alvo, análogos de somatostatina e medicina nuclear”.

Para a médica do A.C.Camargo, a idade precoce levanta suspeita de predisposição genética. “Todo paciente com tumor neuroendócrino abaixo dos 40 anos deve fazer teste genético. Mesmo sem histórico familiar, pode haver uma mutação herdada ou surgida na formação do embrião”, explica.

Recentemente, Riechelmann liderou uma pesquisa que identificou um gene associado à maior agressividade da doença em jovens. “É o gene MUTYH. Quando detectado, acompanhamos mais de perto e, em alguns casos, usamos imunoterapia. Já tivemos pacientes com remissão completa da doença”, afirma.

A médica reforça sinais e sintomas de alerta dos tumores neuroendócrinos: diarreia crônica, calor e vermelhidão no rosto e nódulos detectados no fígado em ultrassom de abdômen.

 

Fonte: Marie Claire

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